(via O interior) São sobretudo jovens, de diferentes estratos sociais, que reúnem regularmente em cafés ou nas suas próprias casas. Defendem a nação, o ambiente, o património histórico e cultural e a família como principal célula da sociedade. São contra a droga, o aborto, o "lobby-gay" e as agressões racistas, sejam elas verbais ou físicas. «Pessoas normais», dizem. Há quem os chame extremistas, nazis ou "skins", mas eles assumem-se tão só nacionalistas e andaram pelas ruas da Guarda no último domingo.
Neste momento contam-se seis ou sete membros activos na cidade, mas José Pinto Coelho, presidente do Partido Nacional Renovador (PNR), está animado com as informações de que dispõe. De há dois anos para cá começou a formar-se uma estrutura mais sólida, as pessoas passaram a dar a cara nas acções de rua e está para breve a formalização do núcleo local do PNR. Já é certo que haverá listas pela Guarda nas legislativas de 2009 e está «em aberto» a possibilidade de concorrer também à Câmara da capital do distrito no próximo ano, «apesar de ser difícil», admite o dirigente. Por enquanto, «o objectivo é acolher mais elementos», uma vez que dados recentes do partido indicam a existência de «muitas pessoas dispersas que simpatizam com o PNR em toda esta região». Quem o afirma é "Maria" (nome fictício), uma das militantes na Guarda. Terminou recentemente um curso superior e é uma das hipóteses mais fortes para ser mandatária distrital da lista que vai concorrer às próximas legislativas pelo círculo da Guarda.
Para demonstrar o crescimento do partido na região, Maria apresenta os últimos resultados eleitorais. Em 2005, o PNR colheu 332 votos nas legislativas, mais 91 que nas europeias do ano anterior. A esta subida do número absoluto de votos junta-se o facto do resultado distrital (0,33 por cento dos votos) ter sido o dobro dos escrutínios obtidos em todo o país (0,16 por cento), com especial destaque para a "cidade mais alta", onde o partido conseguiu 62 votos (0,25 por cento dos votos escrutinados). Á semelhança dos dirigentes nacionais, a jovem militante tem encontrado «várias dificuldades», a começar pela falta de apoio financeiro. «As pessoas não conhecem bem o PNR, pois há uma deturpação da nossa imagem e dos nossos ideais», lamenta. Ideais que, segundo Maria, a ajudaram a superar alguns dilemas com que se deparou nos últimos anos. «Tinha dificuldades de integração social e profissional e, sendo o PNR um partido que defende as necessidades dos portugueses, foi aqui que encontrei respostas às minhas dúvidas», recorda.
Interior precisa de investimento, não de «esmolas»
Assim tem acontecido com muitas pessoas: «Encontramos cada vez mais dificuldades no nosso caminho, e qualquer outro jovem poderá precisar de respostas que hoje não lhe são dadas pelo sistema em que vivemos», acrescenta. No interior, os nacionalistas têm-se manifestado pela preservação da Serra da Estrela e pela defesa do comércio tradicional. «Fala-se que quererem vender o Cine-Teatro a chineses e isso é inaceitável. Como é que se vende um dos "ex-libris" da cidade ao comércio chinês?», questiona Pinto Coelho. Na Praça Luís de Camões, o dirigente nacionalista lamenta o cenário que o rodeia: «Não deixa de me doer estarmos no centro histórico desta cidade emblemática e ver estas casas degradadas, ao abandono. Quando uma nação não se preocupa com a sua própria identidade, quando chegamos à principal praça de uma cidade como a Guarda e vemos tantas casas devolutas, pensamos "que dirigentes são estes que deixam cair a alma nacional aos pedaços?" E as pessoas estão a sentir isso», avisa.
Pinto Coelho recorda, em contraponto, os casos de violência recentemente registados na periferia de Lisboa: «Viram-se pretos e ciganos aos tiros nas nossas ruas como se isto fosse o Ruanda. Depois vêm os ciganos reclamar casas. O Governo, impotente, quase que lhes pede desculpas. Isto é intolerável. Estamos nós a pagar os subsídios a estas pessoas que pagam rendas de quatro euros, e depois os portugueses aqui no interior têm dificuldades como o desemprego e o encerramento dos serviços», critica. Para "sarar" algumas das "feridas" da região, como a desertificação, a militante Maria diz que é preciso «renegociar ou negar a Política Agrícola Comum (PAC), voltar a investir na agricultura e no ensino superior, incentivar a instalação de indústria e do sector terciário no interior do país e apostar seriamente na família. Portugal tem de investir no interior. Não é dar esmolas, mas investir», reclama. Um investimento que, para Pinto Coelho, passará por «"injectar sangue novo"» nas zonas mais antigas das cidades: «O interior e as zonas históricas são fundamentais para que se cultive a família, a noção de nação e os valores tradicionais», garante.
Enquanto guardense, Maria apresenta duas propostas concretas: «Poderia haver descontos no metro cúbico de água em função do agregado familiar e incentivos à aquisição de habitação por casais jovens», afirma, desconhecendo que a primeira já está a ser aplicada pelo município. Isto colocando «os portugueses em primeiro lugar», para que não se repita o sucedido em Vila de Rei, onde a autarquia incentivou a imigração de brasileiros: «É perigosíssimo querer estabelecer colonatos no interior. Depois queixem-se se isto ficar como o Kosovo», avisa.
Caso de Rita Vaz ainda na memória dos nacionalistas
Há um ano, a história de Rita Vaz, aluna de Medicina na Covilhã, agitou o meio académico da Universidade da Beira Interior (UBI). Em causa estava o facto da estudante se ter assumido como coordenadora nacional da Juventude Nacionalista, manifestando intenções de se candidatar à Associação Académica. Maria conhece a colega e diz que Rita Vaz, «dado o seu empenho e a sua exposição», acabou hostilizada. «Isto acontece com todos nós», argumenta a guardense, justificando assim o seu anonimato: «Nas acções de rua temos de dar a cara, mas quando falamos com a imprensa temos de salvaguardar a nossa identidade, pois nem sempre as pessoas sabem distinguir as coisas». O presidente do PNR não critica este recolhimento, até porque «há pessoas que têm de pensar na família ou numa carreira e não querem ver o seu futuro comprometido. Isto tem de ser um risco calculado». Por isso, Pinto Coelho acusa alguns docentes da Faculdade de Medicina da UBI de terem encetado uma campanha «contra "aquela miúda nacionalista", como a chamaram. A Rita Vaz sentiu-se e continua a sentir-se muito perseguida na faculdade», denuncia, garantindo que tudo seria diferente se ela fosse da Juventude Socialista ou da Juventude Social-Democrata. «Quando não conseguem silenciar-nos, envolvem-nos numa imensa carga pejorativa. Por exemplo, quando se fala na extrema-esquerda, fala-se no Bloco. Quando falam de nós, somos os "skins", os nazis. É uma luta muito desigual», critica.