29.1.08

Entrevista a Vasco Leitão

- Vasco, quase 9 meses depois da sua prisão domiciliária, com que sentimentos tem vivido a penitência imposta por este sistema?
Com um misto deles, depende. Tristeza, desânimo, revolta sobretudo. As situações são vividas mais intensamente e é difícil que não seja a revolta a sobrepor-se às outras. Mas o que custa mesmo é ver que toda a gente se queixa mas ninguém faz nada. Vira-se as costas e finge-se não ver, está tudo bem, desde que se siga a sua vidinha. E custa também haver gente neste meio que nos aponta o dedo fazendo o jogo do sistema. Acaba por ser frustrante e faz-nos questionar se vale a pena manter este estado de espírito, de permanente luta contra o mal, quando à nossa volta abundam cretinos igualmente maus.

- Apesar da sua prisão domiciliária, como tem acompanhado estes meses relativamente à realidade do nosso país?
Isto vai batendo tão fundo, está a abater-se sobre todos nós uma desgraça tão grande, que a resposta é um riso cínico que é mistura de indignação e raiva. Ver que isto caminha de tal forma, está montado de uma tal maneira, que é possível manipular e mentir tão descaradamente provoca asco. Quase toda a gente aparece na televisão a mentir, borrifando-se para os nossos verdadeiros problemas. Há políticos que aparecem na televisão com aquele discurso pseudo-socialista, a reclamar pelos trabalhadores e a sugerir que são fiscais ao serviço do povo, mas depois têm grandes negócios obscuros e financiados por todos nós em África e na América do Sul. Há muitos milhões que nos são roubados todos os dias, e ninguém explica porquê, mas o pior é aparentemente ninguém querer saber disso. Anda tudo entretido na sua vidinha, nas suas prestações de merda, e apenas se discute o sexo dos anjos.

- Sem entrar em matéria de facto, que com certeza por estar em segredo de justiça não pode falar, gostaria de expor alguns elementos relevantes da tão falada "perseguição politica"?
O segredo de justiça é uma farsa que protege os ricos e poderosos e o actual código foi um fato feito à sua medida. Se a comunicação social violar esse segredo que pode o cidadão fazer? Enfrentar sozinho essa gente sem rosto? E quem lhe paga as custas e os advogados? E que adianta estar depois meia-dúzia de anos à espera da resolução, se o mal já está feito? Ainda estávamos nós detidos dentro da PJ, sem qualquer acesso ao exterior, e já os nossos nomes eram atirados para a lama por alguns jornais, sem termos maneira de nos defender. Essa treta do segredo de justiça está ao serviço dos poderosos, e cada vez está pior, tudo por causa do Caso Casa Pia. Uma Procuradora ou um PJ ou qualquer outro funcionário do tribunal pode rebentar com o segredo de justiça à vontade pois sabe que não lhe acontece nada. Já um cidadão... ou amealhou durante a vida ou então cala-se bem caladinho que é o melhor.

- Em relação à "perseguição política", como é que sustentam essa ideia se existem realmente crimes no processo?
Ninguém diz que ninguém cometeu crimes. A questão não é essa. A questão é que o crime principal deste processo é o do artigo 240º e essa acusação que nos fazem é, única e exclusivamente, política. Não há nenhum crime ou violência racista, trata-se tudo do entendimento do que é uma organização e do que é propaganda, mas nunca racista e sem qualquer crime ou actividade que possa ser acusada de racista. Mas escandaloso é que se apliquem medidas de coacção com base nesse preconceito, vago e vazio. Só falta meterem ali os sinais vermelhos que algum de nós passou ou a não entrega da declaração de IRS. Vivemos num regime dominado por comunistas envergonhados que sonham com uma União Soviética Capitalista, uma espécie de China Europeia, onde a Economia avança como uma locomotiva descontrolada e o Estado cai em cima dos cidadãos como nunca se viu.

- Não concorda que o racismo seja criminalizado?
Uma coisa é um crime poder ser agravado, qualificado, se for cometido por motivos que o sistema político não gosta, como por exemplo ser motivado pelo sexo, raça ou religião. O que não existe em nenhum país civilizado é essa ideia ser tipificada, por si só, como crime. Ou seja, se alguém criar uma associação em Portugal que nunca tenha tido actividade de qualquer tipo, se mesmo sem actividade nenhuma for considerada por um Juiz como racista, só por isso está sujeito a uma pena de prisão até 8 anos. Se uma criança for violada consecutivamente, além da pena de não ser agravada por isso, o violador provavelmente apanha metade disso.

-Esta "democracia" pode sustentar tabus? Ou já o faz silenciosamente?
Já o faz, sem dúvida. Aliás, em relação a isso, é estranho que a nossa sociedade avance num caminho em que tudo se aceita sem reclamar, e que tudo se discute livremente na televisão, mas quando se fala em imigração só são aceites opiniões pré-aceites e condizentes com as do sistema. Ou seja, se aparecer um travesti a transmitir a mensagem que ser nojento é bom para as crianças, logo aparecem os censores a obrigarem-nos a aceitar essa ideia, se aparece um Pinto Coelho a dizer que basta de imigração em massa, logo leva com o rótulo de intolerante e fascista e outros disparates do género.

- Sei que foi pai pela primeira vez há pouco tempo... uma vida nova... em que Portugal gostaria de ver o seu filho crescer?
Portugal só existe um, portanto seria neste. Mas há que distinguir entre Nação e Estado. A Nação somos todos nós, portugueses, e o Estado são eles, os burocratas e soviéticos. Não é certamente neste Estado que eu quero que o meu filho viva. Aliás, quando penso no futuro desta localização geográfica, à qual ainda se chama Portugal, o panorama afigura-se triste e desolador.

- Como nacionalista que comentário lhe merece o Tratado de Lisboa, recentemente assinado?
É mais um papel, igual a tantos outros, que serve apenas para aconchegar o nosso destino. Foi mais um capítulo da destruição das Nações assinado pelos promotores do mundialismo e da globalização. Eles estão muito pouco preocupados connosco, o que interessa é que a máquina capitalista avance sem parar, obliterando quem se atravessa pelo seu caminho. Quando nos querem impor uma nova Constituição, da qual nenhum cidadão conhece sequer o texto, então está tudo dito.

- E a lei dos partidos? Que democracia afinal é esta em que vivemos?
Democracia... quer dizer, diz você que vivemos em Democracia, porque isso obviamente é falso. Nós vivemos é numa plutocracia, ou partidocracia, dominada pelas máfias que se instalaram no poder, agora Democracia deve ser noutro local que não este. Quanto à Lei dos Partidos, e dentro desta lógica, esta é perfeitamente natural. Até me admira que não proíbam pura e simplesmente os partidos incómodos e que tivessem tido o cuidado de andar a inventar leis sobre a matéria. Afinal de contas eles até são bons rapazinhos, está a ver?

- Parece-lhe que as pessoas simplesmente se abstraíram da política ou estão adormecidos pelo materialismo crescente?
Este sistema precisa que as pessoas estejam adormecidas e portanto promove essa letargia. E muita gente parece gostar das festas no pêlo, tipo cãezinhos amestrados, que lhes dão os políticos. Depois ainda se atiram como um cão raivoso a quem ousa abanar um bocadinho as coisas, como se fossem os donos da verdade e estivessem cheios de razão, e prova disso é o Mário Machado estar na prisão. Nesse aspecto os soviéticos deste regime aparecem pomposos como grandes tolerantes e estadistas mas são uns cães iguais ou piores que os originais, por serem cínicos e mentirosos. Por exemplo, o Augusto Santos Silva é um soviético que quer controlar a comunicação social mas que tem um discurso polido ao jeito da democracia. Foi esse senhor que disse que os jornalistas estavam proibidos de falar bem das manifestações nacionalistas [“Os espaços informativos ficam salvaguardados desta legislação desde que, por exemplo, no final de uma reportagem sobre uma manifestação da extrema-direita de natureza xenófoba o pivô se iniba de fazer comentários favoráveis à manifestação”]. Ora esta gente é que é perigosa, não é o Mário Machado, que apenas tem o coração demasiado perto da boca para aquilo que eles conseguem aguentar.- Mudando agora um pouco a temática da nossa conversa, têm surgido nos últimos anos o aparecimento de associações e outras instituições de cariz nacionalista e identitário em Portugal, assim como no resto da Europa, falando especificamente no caso português, acha que estas são importantes para o futuro do país ou não têm qualquer relevância prática e objectiva como móbil do despertar colectivo?Não sei, para mim não é o facto de existirem no papel que lhes dá essa importância mas sim o facto de serem ou não constituídas por pessoas com valor. No papel até poderia haver 10 milhões de grupos, associações ou partidos, mas homens com verdadeira coragem e carácter existem poucos hoje em dia. O que se vê são grupelhos formados em torno de determinada personalidade. Associações e grupos sempre houve em Portugal, é preciso não esquecer isso, e alguns dos seus elementos mantêm-se na linha da frente mas outros evaporaram-se porque simplesmente eram fracos ou não eram sequer nacionalistas. Na minha opinião nunca houve um verdadeiro movimento nacionalista em Portugal. Houve sim bons grupos, boas actividades, boas publicações, mas um verdadeiro movimento nunca houve. E algumas pessoas podem ficar chateadas com esta afirmação mas a realidade é essa.

- Como observa neste quadro actual o futuro do PNR?... (é para continuar até onde e quando?)
O PNR é um partido político e, portanto, está dependente das regras do sistema, o que só por si diz tudo, visto que o próprio sistema é uma podridão de alto a baixo. A única certeza que podemos ter é que se eles decidirem que é para fechar, acaba-se. Coisa diferente é a organização e mobilização de nacionalistas, que há-de existir sempre.

- E se o PNR acabar por ser extinto ou não atingir o objectivo parlamentar, o que se perspectiva?
Já temos diversos grupos e associações criadas para, caso isso aconteça, continuarmos a nossa luta. Quanto ao objectivo parlamentar, pessoalmente considero mais um dos objectivos a médio prazo que nós temos. É uma ilusão pensar-se que um deputado, sozinho no meio daquela pandilha toda, vai mudar alguma coisa. O crescimento tem de ser popular, na rua, não artificial. O meu objectivo é ajudar a construir um verdadeiro movimento nacionalista, se for com um partido, óptimo, senão também não há problema nenhum, desde que seja forte e popular.

- O que espera deste 2008?
Gostaria de deixar algum comentário ou palavra para este novo ano que agora começou?Espero mais conversa da treta, mais mentiras, mais roubos, mais corrupções, mais manipulações, e mais sacrifícios de todos os outros. De resto, tudo igual, com mais ou menos folclore. Deixo apenas uma mensagem de agradecimento a todos aqueles que não se deixam intimidar com os ataques da "democracia". É nestas alturas que se demonstra o verdadeiro espírito e sacrifício e coragem, não quando tudo corre bem. Mas sobretudo é preciso muita cabeça, muita força e determinação, para não nos deixarmos cair na ratoeira que nos foi montada. Um abraço e força!

Entrevista cedida aos blogs Terra Portuguesa!